quarta-feira, 8 de outubro de 2014

RESENHA DO TEXTO: TRANSFORMAÇÃO DO MACACO EM HOMEM

 Friedrich Engels (1820 – 1895) foi teórico alemão fundador do socialismo científico (comunismo) teve importante contribuição para essa corrente político-filosófico e ao método materialismo dialética (materialismo histórico dialético), juntamente com Karl Marx escreveram diversas obras entre elas a mais conhecida o Manifesto do Partido Comunista (1848), foi dele também a tarefa de sistematizar os estudos realizados por Marx para publicação do segundo e terceiros volumes de “O Capital”.
Em seu texto “Transformação do macaco em homem” Engels apresenta sua percepção da influência do trabalho na evolução de uma espécie de primata antropóide, fundamentado na teoria de Darwin - seleção natural – que apenas uma determinada espécie – intermediário – de primatas, os símios, seria os primeiros estádios do homem como conhecemos hoje.
O trabalho segundo Engels (1980, p. 7) “É a condição fundamental de toda a vida humana, e em tão elevado grau que certo sentido, se pode dizer: foi o trabalho que criou o próprio homem.”. Nesse processo o fato da locomoção sobre a posição ereta (bípede), liberando, por conseguinte a mão - que mesmo antes disso já cumpria uma função particular aos antropoides - foi o primeiro passo para o desenvolvimento do homem. Durante o longo período de tempo que a mão evoluía, para Engels ela é vista como fruto do trabalho, até sua plena evolução, sendo capaz de produzir instrumentos:
Deste modo, a mão não é apenas o órgão de trabalho, é também a produto do trabalho. Só pelo trabalho, pela sua adaptação a operações sempre novas, pela transmissão hereditária do desenvolvimento particular, assim adquirido, dos músculos, dos tendões e, em intervalos mais longos, dos próprios ossos, pela aplicação constante desse aperfeiçoamento hereditário a novas e cada vez mais com poucas operações, foi possível a mão Humana alcançar esse elevado grau de perfeição que lhe permitiu fazer surgir o milagre dos quadros de Rafael, das estátuas de Thorwaldsen, da música de Paganini. (ENGELS, 1980, p. 9)
O fato do trabalho ter uma característica social possibilitando a formação ainda maiores de grupamentos sociais que o trabalho mútuo resulta, o suprimento das necessidades do grupo gerou novas, a de comunicação, passando assim o desenvolvimento, lentamente, de um órgão que possibilitasse a emissão de sons, a laringe: “(...) e os órgãos da boca foram, pouco a pouco, aprendendo a pronunciar sons articulados” Engels (1980, p. 11). A linguagem articulada, assim como a mão, é fruto do trabalho realizado pelo homem, ao organizarem um conjunto de símbolos e representações necessários na vida em grupo. Os estímulos: o trabalho, a linguagem pouco a pouco foi desenvolvendo o cérebro e, por conseguinte, os órgãos dos sentidos como a visão e a audição. O cérebro passa a acelerar o desenvolvimento através da capacidade de abstração e raciocínio recebidos pelos sentidos que influenciaram o trabalho e a linguagem em seu continuo aperfeiçoamento. Nesse ponto, Engels considera que o homem se diferencia totalmente do macaco e surge um novo elemento nesse progresso evolutivo e acabado de homem, a sociedade.
Outro ponto importante apresentado por Engels é o fato de a mudança alimentar dessa espécie de macaco até se tornar em homem. Não só o fato da introdução de novos elementos à alimentação – alterando a estrutura física -, inclui também, o fato de passarem a permanecer em grupos fixos, gerando necessidade como a caça e a pesca além da criação de animais para suprir essa nova dieta alimentar, a carnívora. Para Engels o trabalho na história do homem começa desse ponto:
O trabalho começa com a fabricação de ferramentas. (...) São instrumentos de caça e de pesca, servindo, os primeiros, também de armas. Mas a caça e a pesca pressupõem a passagem da alimentação exclusivamente vegetariana ao consumo simultâneo da carne: um novo passo no sentido da humanização. (ENGELS, p. 15)
As novas necessidades surgidas pela ocupação de áreas cada vez mais vastas pela superfície adaptando-se ao relevo, clima e intempéries é uma característica próprio do homem e a cada necessidade se desenvolvia novos tipos de trabalho e a especialização da mão, dos sentidos e do cérebro como já foi dito.  Se no primeiro momento o trabalho desenvolvia a habitação, o vestuário etc. “O próprio trabalho se ia tornando, de geração para geração, mais perfeito e mais variado” Engels (1980, p. 17). Mas à medida que o processo dialético entre homem-trabalho-natureza se aprofundava surgia então novas atividades:
À caça e à criação de gado, junta-se a agricultura, e a esta a fiação, a tecelagem, os trabalhos com metais, a navegação, a olaria. Ao lado do comércio e da indústria surgiram, finalmente, a arte e a ciência; as tribos transformaram-se em nações e em. Estados; a política e o direito desenvolveram-se, e, a um mesmo tempo, o reflexo fantástico das coisas humanas: a religião. (ENGELS, p. 17, grifo nosso)
 Engels reafirma que o trabalho produziu o homem à medida que o homem trabalhava, os outros animais não saíram da dependência do que a natureza lhe oferece. Ao homem tomar consciência das suas necessidades e através do desenvolvimento do cérebro foi cada vez mais se afastando da dependência da natureza e fazendo com que ela lhe desse mais do que ela poderia, através do trabalho ao modificá-la.
 A importante contribuição feita por Engels no texto está no fato dos apontamentos do que possibilitou a passagem do macaco ao homem, onde a principal característica é o processo dialético proposto por ele entre o homem que modifica a natureza através do trabalho e que é também constructo desse trabalho realizado, nos diferenciando dos outros animais no trato com a natureza, fazendo com que ela passe a fornecer o que ele necessite através de sua modificação.
O texto de Engels nos possibilita a uma visão acerca da evolução de uma espécie de macacos – símios - que além de suas caracterizas físicas próximas ao homem também se caracteriza pela forma de socialização entre seus membros, uma imagem primitiva do homem atual, desenvolvido ao longo da história e do processo dialético entre o homem, natureza e outras espécies sob a perspectiva da categoria trabalho e as formas de interação no processo evolutivo.